Se você pretende, quando acabar de ler esta reportagem, ter uma resposta definitiva sobre o tema, vire a página. O tema é polêmico e não existe consenso entre os especialistas. Há quem diga que quanto antes a criança começar a aprender, melhor. Há quem declare que as crianças não deveriam trocar o tempo que teriam para brincar pelas aulas de inglês. Há quem aposte que é possível aprender a língua de maneira lúdica e divertida. Há quem acredite que aprender inglês junto com a alfabetização em português atrapalha o aprendizado da criança. Há quem critique a ansiedade dos pais sobre o assunto. E há uma fila de pais sem saber o que fazer.
A preocupação se justifica. Um terço das pessoas do mundo, cerca de 2 bilhões, dominará o inglês na próxima década, segundo um estudo do Conselho Britânico. Quem não falar o idioma praticamente carregará um atestado de exclusão. Sabendo disso, os pais vivem sempre com uma sensação de urgência quando se trata do aprendizado da língua para seus filhos. Algumas escolas de educação infantil estão incluindo a matéria na grade curricular dos alunos pequenos, mesmo nas de maternal. Sem falar na proliferação dos cursos extracurriculares. Toda essa preocupação tem base em pesquisas que revelam que quanto mais cedo, melhor. "Crianças pequenas têm um canal mais aberto e sofrem menos com inibições", explica Raquel Jelem Lam, diretora do Red Balloon, em São Paulo, que há 36 anos ensina crianças a partir de 3 anos. Nem todos concordam com isso. "Os pais estão olhando para seus filhos como futuros trabalhadores, e isso é uma loucura!", alerta o professor de psicologia da educação da Universidade de São Paulo, Julio Groppa Aquino. "Por isso, crescem os casos de crianças estressadas nos consultórios dos psicólogos. Elas precisam de tempo para brincar. Colocar os filhos para aprender inglês tão cedo, preocupados com a competitividade do mercado de trabalho é um movimento histérico."
Os jovens atualmente já dominam a língua antes dos das gerações anteriores. "Prova disso é que exames de proficiência como o Cambridge, que na década de 70 costumavam ser prestados apenas por adolescentes, tiveram seus temas reformulados para testar crianças que hoje atingem os mesmos níveis por volta dos 13 anos", diz Raquel. Os bons resultados vêm abrindo espaço para o inglês até nos redutos mais resistentes, como a Escola da Vila, em São Paulo, que se rendeu à inclusão do inglês a partir dos 3 anos. "Não queríamos abrir mão do espaço para brincadeiras, mas conseguimos unir as duas coisas", garante a diretora Vânia Marincek.
Ainda no berço
Há até quem defenda o ensino do inglês para bebês de 6 meses. Assim ele é oferecido na Dice English Courses, no Rio de Janeiro. "Pesquisas mostram que bebês armazenam a capacidade de reproduzir o idioma sem sotaque", defende Eloisa de Oliveira, diretora. "Antigamente acreditava-se que o ensino do inglês antes da alfabetização pudesse atrapalhar, mas hoje as pesquisas indicam o contrário", afirma a coordenadora do curso Kids do Cel Lep, Ana Tereza Rodrigues Moreira. O pequeno João, 4 anos, é um ícone dessa geração precoce. "Passamos as férias na Disney e a viagem deu um upgrade no inglês dele", conta a mãe, Teresa Cristina Mello de Almeida Prado. Um estudo recente, no entanto, aponta para o aprendizado mais tardio da língua. Pesquisadores da University College de Londres concluíram que a melhor idade para começar é mesmo entre os 5 e os 10 anos. Ao avaliar os cérebros de 105 pessoas, constataram que as que cursaram inglês nessa fase fizeram mais conexões cerebrais, registraram aumento da massa encefálica e, portanto, têm mais chances de ser fluentes na língua.
Decisão difícil
O coordenador pedagógico da escola de educação infantil Estilo de Aprender, Marcelo Cunha Bueno, não vê sentido no ensino do inglês na educação infantil em escolas que não sejam bilíngües. "Nessas escolas há, sim, um propósito justo de não perder o contato com a língua que os pais falam em casa e a criança se identifica de alguma forma. Nas demais escolas, acaba-se oferecendo o curso por pressão do mercado. O mais importante nessa fase não é o conteúdo formal, mas, sim, a formação da identidade e da autonomia da criança, e a interação com as outras crianças ", argumenta. A coordenadora pedagógica da Escola Viva, Renata Americano, onde o ensino da língua começa a partir da terceira série, concorda. "Não sentimos necessidade antes disso. Há outras prioridades, como o faz-de-conta e a expressão artística. No final das contas, as crianças vão acabar aprendendo inglês. Lá na frente, o mais criativo vai se destacar", conclui.
Ter ou não inglês não é mais um diferencial entre escolas. Elas querem é qualidade. Muitas estão contratando empresas terceirizadas. No Vera Cruz, o inglês é ensinado a partir dos 6 anos, de forma opcional. "Só assim é possível manter a qualidade e fazer com que os alunos não tenham de freqüentar um curso obrigatório na escola e outro fora", diz a diretora Lucília Bechara Sanchez. Diante de tantas opiniões e opções, resta aos pais conversar com os responsáveis pelos cursos, conhecê-los melhor, entender as propostas, avaliar a carga horária das atividades extracurriculares de seus filhos para não sobrecarregá-los e decidir, afinal, quando começar. |